Aviões lotados de animais mortos com a Marcha para o
Oeste - tiveram de ser empalhados e levados para RJ e Brasília
Recomendo o filme Xingu do diretor Cao Hamburger. É belíssimo, emocionante em vários momentos, resgata a história do Brasil, mostra a versão do povos do Xingu e evindencia a importância de os irmãos Villas Boas estarem na expedição para que fosse idealizado e criado, em 1961, por decreto do então presidente Jânio Quadros, o Parque Nacional do Xingu que completou 50 anos em 2010. Dá orgulho de ver filmes bem produzidos (até pelo custo: cerca de R$ 15 milhões de reais) mostrando a história do Brasil e merecendo prêmios internacionais do cinema. Mas a Marcha para o Oeste também teve outros capítulos mostrado apenas sutilmente no filme. Mais de 60 anos depois a visão de meio ambiente da sociedade e a legislação ambiental também não é mesma. Ainda mais para grupos com a missão de abrir campos de pouso no cerrado do Brasil Central rumo a Amazônia e sobreviver as adversidades do trabalho. Assim, a caça de animais só aparece em uma cena - um dos irmãos, Caio Blat, representando Leonardo Villas Boas, volta de uma caçada com um porco do mato ou catitu nas mãos.
Primeiro contato dos índios com o avião mostrado no filme Xingu. Belíssima cena com os índios dentro do avião sobrevoando o Xingu e o rio com suas inúmeras curvas. Os irmãos conheceram primeiro os índios xavantes em julho de 1945 e depois mais 14 povos. Na época e, desde o século XIX, com o contato com o 'branco' os índios já morriam vitimados por doenças como a gripe. Mas uma missão para os irmãos que precisaram convencer as autoridades a liberar medicamentos para tratar os índios.
João Miguel (representando Cláudio Villas Boas), Caio Blat (Leonardo Villas Boas) e Felipe Camargo (Orlando Villas Boas), os aventureiros irmãos no filme Xingu. Enquanto João Miguel continua no Xingu vivendo com os índios, Felipe Camargo faz o papel político, de lobby para conseguir criar e manter o Parque Nacional do Xingu que possui 27 mil quilômetros quadrados
Foto de arquivo da família Villas Boas mostra os três irmaos disfarçados de sertanejos reunidos em foto da década de 1950: Leonardo, Orlando e Cláudio na Expedição Roncador-Xingu ou Marcha para o Oeste organizada em 1943 durante governo de Getúlio Vargas. Mesmo estudando em bons colégios eles queriam viver a aventura. Para conseguir vaga na expedição deixaram a barba crescer, calçaram botinas típicas, vestiram roupas de sertanejos e figiram ser analfabetos mesmo tendo estudados em bons colégios
No filme os irmãos fazem o primeiro contato com os índios. Orlando nasceu em 1916 e faleceu em 2002) e Cláudio Villas Bôas nasceu em 1918 e morreu em 1998. A expedição teve início em Uberlândia, Minas Gerais. Foi criada pela Fundação Brasil Central e buscava consolidar a soberania nacional ligando o Brasil Central ao Amazonas
Foto do arquivo da Família Villas Boas mostra contato que gerou grandes amizades e respeito aos índios - contato feito sem matar índios. Orlando e Cláudio Villas Boas estiveram à frente do Parque do Xingu até 1975
Outra foto de acervo da Família Villas Boas mostra acampamento de expedicionários sertanistas na região do rio Xingu
Fernando Meirelles, que idealizou o filme, durante entrevista coletiva de Xingu em 4-11-2011: "A Transamazônica do Filme é a Belo Monte de Hoje", "Belo Monte é uma das mais agravantes questões do Brasil". Lembrando que a Eletrobras financiou do custo total de cerca de R$ 15 milhões de reais R$ 800 mil e é a responsável por Belo Monte. Foto de Wesley Andrade/divulgação)
Diretor do filme Xingu: "Conversamos com índios que viveram a história"
Memória da Marcha para o Oeste
"O cientista e ornitólogo José Hidasi recolheu os couros de onças durante a Marcha para o Oeste que ocorreu no Brasil na década de 50. Os governantes queriam levar o chamado 'desenvolvimento' para o interior do país, mas os animais pagaram o preço. Abertura de estradas para o progresso, mas muitos animais abatidos pelos desbravadores. Com o alemão Helmunt Sicks chefiando expedição científica, José Hidasi trabalhava diuturnamente preparando os couros de animais que foram abatidos pelos homens que faziam a Marcha para o Oeste. Caso o trabalho não fosse feito tudo seria perdido. José Hidasi conservou vários desses couros durante mais de 50 anos."
"Em Xavantina (MT), quando o presidente da República, em 1950, Getúlio Vargas, disse para seguir a Marcha para o Oeste, do Rio de Janeiro até Manaus, as pessoas contratadas faziam picadas nas matas. O meu chefe era o alemão Helmunt Sicks, que acompanhei como taxidermista. Todos os animais que eles mataram o couro ficava para nós, cientistas. Saiam aviões lotados de animais empalhados. Animais do museu de Aragarças foram transportados para Brasília e, em 1967, fizemos um pavilhão muito grande na área de zoobotânica do Distrito Federal. Mas a construção feita de madeira acabou pegando fogo quando ocorreu um curto-circuito" (Blog Educação Ambiental em Goiás 7-5-2009)
Várias espécies de felinos abatidos durante a Marcha para o Oeste
Essas onças mortas durante Marcha para o Oeste em 1953 foram empalhadas em 2009 pelo professor José Hidasi. "Peles iam apenas se perder"
Na própria foto a inscrição a mão mostra local e data: Xavantina, Mato Grosso, 1952
"Xavantina era um dos pontos de encontro desse bando de homens que estavam cortando as matas, morrendo de malária e outras doenças. Em Xavantina fizemos um laboratório e juntamos os animais que eles mataram e não comeram e iam jogar fora couros e peles de aves como mutuns, seriemas e araras. Peguei e empalhei. A primeira leva com aviões cheios foi para o Rio de Janeiro, para o Museu Nacional. Mas eram tantos animais abatidos que eu não dava conta de empalhar todos. Nenhum taxidermista fazia a quantidade que eu conseguia. Mas eu, como um fanático, fazia. Outros nem queriam entrar lá porque pegavam doenças. Muitos arriscaram a vida. Levei os couros que consegui e conservei no álcool. É um segredo que um alemão me revelou: “Não vai curtir com pedra lumem, sal? Então limpa o couro e coloca no álcool.” Os tambores ficaram cheios. Em 1954, deixei a Fundação Brasil Central e levei tudo para Aragarças e fizemos um museu lá. Na época Chateaubriand levava príncipes para ver o museu. (Blog Educação Ambiental em Goiás 7-5-2009)
"No couro das onças empalhadas, mais de meio século depois, é possível ver os orifícios provocados pelas balas. José Hidasi diz que a maior delas, se não fosse morta pelos caçadores da Marcha para o Oeste, teria no máximo mais uns dois anos de vida. Isso porque cada ser vivo tem seu tempo de sobrevivência no nosso planeta. Empalhada, ela começa a servir na educação ambiental mais de 50 anos depois de ser retirada da natureza. Vai estar exposta em um museu e servir para educação ambiental e reflexão das novas gerações." (Blog Educação Ambiental em Goiás 7-5-2009)
Hoje, em volta do Xingu a presença de imensas lavouras com a monocultura de soja e extração de madeira. Os índios reclamam da diminuição na quantidade de água dos rios, na poluição por agrotóxicos e o Xingu existe como uma ilha em meio as propriedades rurais. Desafio também é o de manter o idioma já que aldeias foram ligadas por estradas e as novas gerações mantêm contatos com cidades e com a cultura do 'branco'.
Veja o trailer do filme Xingu
Leia mais em:
A arte de József que eterniza a avifauna do mundo
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