Publicação: 19/01/2012 07:34 Atualização: 19/01/2012 07:36
Robson Eleutério (E), com integrantes do grupo que pleiteia o tombamento: "Ele (o obelisco) ficou esquecido durante muitos anos pelos governos" |
Há 90 anos, em 18 de janeiro, o então presidente do Brasil, Epitácio da Silva Pessoa, assinava o Decreto nº 4.494, que previa a colocação da pedra fundamental na área onde seria construída a nova capital do país. Quase um século depois, moradores de Planaltina, onde está localizado o marco, lutam para transformar o monumento carregado de história em patrimônio nacional. Inaugurado em 7 de setembro de 1922, o obelisco foi símbolo do movimento de interiorização do país e anunciou também a chegada da modernidade à porta da cidade ocupada ainda no século 19 e com ares interioranos.
O monumento foi tombado pelo Governo do Distrito Federal em 1984, mas o grupo de Planaltina defende o reconhecimento nacional. “À época, não houve a participação da comunidade nem um trabalho histórico que justificasse o título”, explicou o historiador Robson Eleutério, 52 anos, coordenador do Instituto Cerratense Paulo Bertran e organizador do movimento Pedra Fundamental, Patrimônio Nacional. O objetivo do grupo, formado por diversas entidades locais, é recuperar e revitalizar a área onde se encontra o obelisco. “Ele ficou esquecido durante muitos anos pelos governos”, lamentou Eleutério. O pedido foi enviado na semana passada ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
A ideia do movimento é resgatar a história de Planaltina e da construção de Brasília nas escolas e perante a comunidade. Robson explica que o grupo estuda criar um museu a céu aberto na área onde está localizada a Pedra Fundamental. “Precisamos de uma estrutura melhor para essa região, pois aqui é muito isolado e falta segurança”, apontou o professor e morador da cidade Mestre Pau-Pereira, como é conhecido. Ele pretende desenvolver projetos que já realiza nas escolas, como o ABCerrado, com o objetivo de preservar o bioma; e o Bicho Serrador, para identificar animais típicos e esculpi-los em madeira.
Preto Rezende, da Secretaria de Cultura do GDF: "Vamos fazer a nossa parte para que o tombamento ocorra" |
“Podemos fazer exposições, oficinas, trilhas e um museu itinerante para mostrar a história do Cerrado e da região nas datas comemorativas, como o 7 de Setembro e o aniversário de Brasília. Assim as escolas poderão explorar essa riqueza histórica”, defendeu Robson. Ele lamentou que, desde a construção, a Pedra Fundamental nunca foi incluída pelos governantes nas comemorações do aniversário da capital federal. “Nosso primeiro passo é tornar o monumento um patrimônio nacional e depois garantir que a área fique mais bem assistida”, revelou.
Caminho refeito
Durante os festejos dos 90 anos da Pedra Fundamental, a ser comemorado em 7 de setembro deste ano, o grupo pretende refazer o caminho trilhado pela comitiva, liderada por Ernesto Balduíno. Ele foi o encarregado de construir o monumento em Planaltina. Saiu de Araguari (MG) com o grupo e levou três dias para chegar ao lugar determinado. Carregaram cerca de cinco toneladas de material. Passaram por Ipameri, onde se hospedaram, e depois por Cristalina, última parada antes de descerem no local onde seria instalado o marco para a nova capital do país. A placa de bronze do monumento veio de São Paulo. “Isso será importante para construir a historiografia da região. Entramos em contato com a Prefeitura de Ipameri para propor alguns eventos”, adiantou Robson.
Informação cultural
A professora Francisca Monteiro, 47 anos, moradora do Paranoá, faz parte do grupo, e lembrou a importância do movimento. “É fundamental que os professores trabalhem esse tema com os alunos para eles conhecerem a importância cultural, econômica e social da região.” Para o artista plástico e professor Felipe Vitelli, 56, o tombamento nacional vai muito além: “Temos que desmitificar essa questão de que aqui era um quadrilátero vazio antes da chegada da capital federal”.
A Superintendência do Iphan no Distrito Federal mostrou-se favorável à proposição. Destacou que esse é um evento importante não só para o DF, mas para a história brasileira. O superintendente do Iphan no DF, Alfredo Gastal, detalhou: “Ele significa um marco da visão territorial do país que se consolida no século 19, ainda durante o Império. Por outro lado, embora o tombamento seja um ato de extrema importância para a preservação dessa memória, é fundamental que, paralelamente, o Governo do Distrito Federal demonstre interesse na transformação dessa área em um ponto de atração turística, tornando esse espaço acessível, com paisagismo adequado e uma infraestrutura básica para receber os seus visitantes, além de colocá-lo como objeto de estudo para os escolares da região”.
Procurada pelo Correio, a Secretaria de Cultura, por meio de assessoria de imprensa, informou que o GDF apoia o movimento. “A pedra já tem um tombamento simbólico, dentro da Secretaria de Cultura, que vem de muito tempo. O acesso ao local, hoje em dia, é bem melhor, pois o asfalto está quase pronto. Vamos fazer a nossa parte para que o tombamento ocorra”, afirmou o subsecretário de Diversidade Cultural da Secretaria de Cultura, Preto Rezende.
O que é?
Cerimônia simbólica de origem atribuída aos celtas e aos maçons, o lançamento da pedra fundamental costuma assinalar a colocação do primeiro bloco de pedra ou alvenaria acima da fundação de uma obra, marcando o início da edificação. Diz respeito à inauguração de algum empreendimento considerado de grande importância. Por tradição, a pedra fundamental que apresenta as características da obra e de seu autor é colocada no canto nordeste da construção. Em algumas regiões, é comum acrescentar ao ritual uma espécie de “cápsula do tempo” — recipiente dentro do qual está uma ata com o nome dos presentes à cerimônia e alguns ícones da época, como moedas, um jornal do dia ou objetos que representem a ocasião.
Agroecólogos Futuros: Leiam essa matéria e vamos participar 7 de setembro dessa amostra de civismo para a qual estamos convidados.
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